O prolongar do vento estava nas ondas e espirais do meu cabelo; pedalei sem ficar ofegada, como que passeia por puro prazer, lê o jornal para estar informado, come pão para não ter fome. Senti-me presa num filme francês muito anos '60, com o meu casaquinho preto e a mala no gancho atrás de mim, complementa-se com a ideia de ter uma aula de História d'Arte que acontece todas as quintas ao fim do dia. Soube bem.
Intervim nas minhas ocasionais mudanças de pensamento mas uma ficou-me bem presente: porque discutimos tanto tu e eu, hoje? Porque barafustei contigo ao almoço e porque voltou ao jantar?
Preferia pedalar e pensar em coisas boas como num ramo de flores para te oferecer, numa tablete Milka para devorares. Ou simplesmente, no nosso próximo encontro.
Amanhã estarei lá, à tua espera com uma mão estendida a pedir-te desculpa. Mas, Rita, desculpa-me já esta noite.
Terei perdido a coragem, como nos filmes? Amanhã talvez a recuper.
É sempre no dia a seguir.
É amanhã.