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A vida de Mala Aviada

A vida de Mala Aviada

dovaziocomamor #6

Ouve-me. Só peço que me ouças, que pares e me ouças. Que desejes o que eu ouço e o que eu digo. Ouve o teclado a bater enquanto escrevo sobre ti, sobre os teus sonhos, sobre os teus pesadelos, terrores e suores. Ouve enquanto o abraço apertado que te dou espreme e contrai a tua roupa leve, tão leve quanto tu a ouves. Porque a ouves, eu sei que sim, mas não me ouves a mim. Ouve-me a mim que sei os teus medos e sei os teus desejos. Ouve-me e ouve os meus para os conjugar, para se ouvirem mutuamente. Ouve-me quando te peço que te agarres e não voltes a largar, quando te digo para abrires a porta e não a voltares a fechar. Criaste um sufoco surdo em mim. Eu ouço-o, mas ele é surdo, é como tu que não me ouves. Ficaste surda ao meu amor.

Desalojar de ideias #122

Quando acoedei às 4 a.m. pensei que estivesse num pesadelo. A minha varanda acabára de ser revirada pelas rajadas de vento desta madrugada, partiu-me o armário que eu desenhei do Keith Haring, a cadeira ficou por baixo dele e mais dois vazos que foram à vida. É assustador pensar que vou ter que sair de casa para fazer o turno das 15h. Em quatro anos que estou a morar aqui nunca vi uma tempestade destas; a minha bicicleta veio dormir connosco para o quarto, as gatas andaram assustadas durante a noite toda e as canalizações da cozinha fazem tanto barulho que parece que estamos com água a ferver na panela. Ai São Pedro, tenho a certezinha que se andasses aqui como nós andamos não fazias destas coisas. Porque Alerta Vermelho is a big deal!

Amour

As críticas ao filme são espetaculares. E o filme, em si, não deixa de o ser. Michael Haneke cria aqui um misto de emoções: nostalgia, dor, amor, sentido de responsabilidade e amizade, numa dança de planos simples e crus. A história centra-se na história de dois músicos reformados de 80 anos que tratam um do outro, já com uma certa amargura. A certa altura, Anne, tem um avc que despoleta o resto da história: como George vai tratar dela, a devoção, até que um dia a morte os separe. É pautado pelo dramatismo e tem um final absolutamente inesperado que torna o filme absolutamente brilhante (não gosto obviamente desse final mas compreendo que é isso que o filme tem para a nomeação concedida a melhor filme e melhor filme estrangeiro!).

 

E é tão bom, para variar, ouvir a minha língua materna no cinema.

 

 

Frankenweenie

Mais um dos filmes nomeados para melhor animação. Tim Burton a tocar-nos no coração quando se fala dos nossos animais de estimação. E eu já tive um cão assim como o Sparky. Devo dizer que sou grande fã de Tim Burton sobretudo quando faz animação porque é sempre animação e humor negro que nos espera em formato stop motion . Neste caso, Victor e o seu cão Sparky, os melhores amigos até que, Sparky, num trágico incidente morre. E em New Holand, vilazinha dos trovões e com um nome de família como Frankenstein seria impossível o Sparky não voltar cosido, com remendos e dois parafusos no pescoço. Depois disso, bem... As crianças conseguem ser más, terrivelmente competitivas. E há uma moral sobre a educação, a ciência. O filme está muito bem construído, e é engraçado que dos filmes nomeados para esta categoria dois deles registam os medos/fascínios das crianças: zombies, perder o animal de estimação, a morte, a amizade... 

 

Mr. Tim Burton, obrigada por me fazeres tão feliz com as tuas animações. 

 

ParaNorman

E aqui vos deixo um dos filmes de animação nomeado para óscar, ParaNorman. Ri-me bastante, foi intrigante o suficiente e não é uma hostória convenional; não acaba como se espera, há reviravoltas no meio e claro, a abordagem ao tema: "como tratar um filho que é diferente dos outros miúdos". Norman vê espíritos, fala com eles (sobretudo com a avó paterna) e é troçado por todos os miúdos na escola. A vila onde mora foi fundada sobre o conceito de bruxaria e todos os anos há uma festividade da bruxa, e é aí que se desenrolam as peripécias gerais. E na parte final há o inevital quem fica com quem (estilo final feliz) que me deixou de queixos caídos e às gargalhadas!

 

É um bom filme. Entretem - que é seu dever! - e para mais, o único amigo do Norman faz-me lembrar o meu primo mais novo de caracóis miudinhos e rechonchudo nas bochechas.

 

Bom filme e não tenham medo dos zombies, eles já foram pessoas!

 

Django Unchained

E o segundo já se encontra riscado na lista. Quentin Tarantino (nomeado para melhor filme, melhor argumento) dificilmente desilude, e definitivamente não foi com este filme que o fez. A directora de casting fez um trabalho excelente (Jamie Foxx, Christoph Waltz e Leonardo DiCaprio, Kerry Washington...) e o filme está bem construido, humor negro num assunto sério como a escravatura. Retrata bem a ferocidade do dinheiro por carne. Dr. Shultz (Waltz), caçador de recompensas, liberta Django (Foxx) por saber que ele conhecia três bandidos que ele deveria caçar. Começa uma amizade fundada na liberdade do indivíduo negro e a matança dos bandidos, bem como a procura da esposa de Django, Bloomhilda (Washington), a criada negra que sabia falar alemão. A partir daí, muita história, algum sangue a tingir flores e caras sérias com pistolas e mandados de captura. 

 

Muito muito bom, são quase três horas de filme mas são ridiculamente bem passadas. 

 

Enjoy

 

 

Palavras sábias

Ainda não me tinha pronunciado mas... Aqui ficam as minhas palavras como se fossem as dele (Zico) e sendo elas interpretadas pelo Dr. Louçã. Já assinei, e vocês? Atentem:

 

"Uma execução animal para satisfazer consciências culpadas?

Hesitei muito em assinar ou não a petição contra a execução do cão que recentemente matou uma criança. O desconhecimento das circunstâncias concretas aconselhou-me algum cuidado, para não ficar prisioneiro de debates falsos, nem de querelas religiosas. Mas um argumento que ouvi na TV decidiu-me a assinar a petição e assim fiz.

Para ser claro, não entro em polémicas religiosas sobre a transcendência da decisão sobre a vida e da morte dos animais, porque sei e aceito que matemos insectos e outros animais para nos defendermos (nem vou voltar a discutir se podemos matar os mosquitos que nos picam ou outros) ou porque, bem ou mal, grande parte da espécie humana se alimenta de peixe ou de outros animais. Mas nunca aceitei a razão dos que acham que a morte deve ser encenada para gáudio de um espetáculo, e acho significativo que os defensores das touradas de morte se agitem para serem protagonistas desta controvérsia. São pontos de vista religiosos e vou deixá-los em paz, porque não me interessam.

O que me interessa é qual é a melhor forma de lidar com a responsabilidade da morte da criança.

Há um evidente problema de justiça porque houve uma morte horrorosa, que é um crime. Segundo a lei, a responsabilidade perante a justiça é dos donos do cão. A lei está certa. Que nada disfarce ou esconda essa responsabilidade: quem cria um cão, quem o educa e quem o mantém é responsável pelas suas ações. O cão não é um sujeito jurídico, os donos são. Os culpados são esses e devem responder por isso. Não há nada que possa ser feito ao instrumento ocasional do crime, que foi o cão, que mude ou diminua essa responsabilidade de justiça.

Há depois um problema de segurança. Que pode ser resolvido de muitas maneiras: em Sete Rios, em Lisboa, há um jardim com cobras, jacarés, hipopótamos, leões e outros animais que são perigosos ou podem ser perigosos. O problema de segurança é resolvido separando-os das crianças que os visitam.

Há um problema de segurança com os lobos em matas em todo o país. E é proibido matá-los.

Há um problema de segurança com o famoso lince da serra da Malcata. E, se alguém o encontrar, está proibido de o matar.

O problema de segurança não se resolve matando, a não ser quando estamos a ser atacados e não há outra alternativa. Não parece ser o caso. É por isso que, no meio de todo o debate apaixonado sobre a questão da execução do cão, aconselho simplesmente a que voltemos ao essencial: à proibição da manipulação genética destinada a criar animais para a violência; à responsabilidade permanente dos donos quanto à educação dos animais domésticos e aos seu comportamento; e à criação das melhores condições de segurança para as crianças em casa ou na rua. O essencial é o essencial e a execução do cão é um espetáculo para fugir do essencial, um alibi para os culpados e uma forma de a sociedade passar à próxima notícia do telejornal. Eu assino contra essa mistificação e fuga à responsabilidade."

dovaziocomamor #5

Do vazio. Deste vazio. Do vazio que encontrei quando te olhei a primeira vez nos olhos. Do vazio que senti quando segurei a primeira vez o teu coração. Do vazio que se instalou quando mudamos de casa do belo apartamento citadino para a casa solitária de um subúrbio. Do vazio da cadeira de baloiço que te esperava noites estreladas sem fim. Do vazio de te dar a mão e não existir um esguelho de sorriso em ti. Do vazio de não ouvir a tua voz quando acabavamos de fazer amor. Do vazio do cigarro que vinha a seguir. Do vazio. Deste vazio e de tantos outros. Do nosso e dos outros. Do vazio, com amor.