Sabes que é um dia feliz quando recebes um e-mail a dizer que o novo catálogo do IKEA já está online.
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Sabes que é um dia feliz quando recebes um e-mail a dizer que o novo catálogo do IKEA já está online.
O instagram bloqueou a Alex e impediu-a de me marcar em comentários; acham que ela é abusiva e que pode estar a intrometer-se na minha vida e a ameaçar-me, embaraçar-me com fotos de carácter menos impróprio.
Aqui vai:
Meu querido instagram: a Alex tem direito de me marcar naquilo que ela bem quiser, e não vejo como marcar-me em fotos de bolos, panquecas e decoração possa ser algo prejudicial à nossa relação. Mais, acho que estás é com inveja que ela pense tantas vezes em mim e se lembre de mim em coisas bonitas.
Ah, já agora, ela não se está a intrometer na minha vida. Apenas me está a dar ideias para torná-la melhor.
Reconsidera a tua posição abusiva por favor.
A*
Dou uma meia volta e fico exactamente ali, meia volta depois ali. Se olho para trás já é passado ardente e fogoso e se olho para a frente há uma névoa gelada que se compadece - ainda não - de mim. Assim numa meia volta, tal como naquele dia naquela cama, surgiram os mesmos atributos, os mesmos adjectivos que emprego agora diante desta meia volta dada que já faz parte do passado. Se ao menos naquele momento soubesse que era melhor não dar meia volta e dar uma volta inteira então não precisava de ter presenciado nenhum passado ardente nem nenhuma névoa gelada. Não teria existido sequer porque o meio define o passado e futuro mas o por inteiro define o presente. E que dizem eles? É o presente que importa.
E não, não é no bom sentido, no fabuloso sentido de ser nasty. É ser nasty quando não se precisa de ser, quando não há motivos para o ser (e então porque se é?). Vejo-me ao espelho e é o nasty feeling all over again, num inglês imaculado. É quando me olho nos olhos e sinto o desespero de estar à espera, a inveja que te tenho enquanto te espero. Porque esperar cansa e enquanto eu espero tu não vens, estás ali, além, acolá e não vens. E enquanto não vens conto as minhas pestanas, olho-me ao espelho e conto as minhas pestanas até me cansar de as contar ou mesmo porque já lhe perdi a conta. E enquanto tu estás ali, além, acolá fico obsessiva e perco a conta às minhas pestanas e depois passo a não contá-las, fico só a olhar para elas. É então que me apercebo do nasty feeling que é teres-me deixado aqui plantada à espera. À tua espera enquanto não vens. Afinal o nasty feeling, o descontar das pestanas… Não é problema meu; não, não: afinal é problema teu.
Houve aquele tempo. Aquele tempo em que tudo era silêncio. E tudo o que vinha a mais eram um estorvo. Eu e o silêncio, nada mais. Talvez os meus pés contra a erva fresca, o pequeno silêncio entre os meus pés e a erva fresca. Este era o tempo, eu sabia-o. Sabia que o silêncio e o tempo nunca mais se repetiriam dessa forma, dessa forma corajosa e imponente. Senti-me nua e ao mesmo tempo vestida, o silêncio abraçou-me de tal forma que me senti crua, nua, despida, sem palavras. Isto, isto foi tudo o silêncio, naquele tempo. E agora resta-me recordá-lo e saber que nunca mais voltará porque ele não é cíclico: acontece-nos uma vez - a quem tem essa sorte. E esse silêncio despiu-me e nunca me senti tão liberta de mim mesma ali, naquele tempo, naquele vasto tempo de silêncio com a erva debaixo dos meus pés nus.