Julgamento
É um facto que a nossa sociedade vive para muitas coisas. Vive para comer de mais, ver porno de mais, beber bebidas alccolicas de mais, fumar de mais, dormir de mais, ficar na pasmaceira de mais... É um facto. O outro facto é o julgamento. O julgamento que todos nós patrocinamos, o julgamento do qual somos vitimas, ao qual nos sujeitamos. Não há dia que passe em que não nos ocorra alguma coisa menos boa a dizer sobre os outros - talvez por não termos mais nada que fazer ou mesmo porque somos seres malvados que está sempre a cobiçar ou descobiçar.
E depois há o Call Center. Onde cada chamada é um momento de perdição para o julgamento. Digamos que, quando entra alguém em chamada há sempre alguma coisa que nos atira logo a atenção para: o ouça (tia de cascais ou fozeira), oube lá (maninho ali do bairro que não tinha mais para onde ligar), tenho um telemóvel (essa mete particular piada porque... se não tivesses, para quem estarias tu a ligar?), ó menina beija lá o que pode fazer para ajudar uma belhinha como eu (no fundo no fundo estou mesmo a pensar é que tu te estás a fazer passar por velha), não estou a perceber o tipo de ladrões que vocês são, da próxima vez que me enviarem uma factura assim dou de comer ao meu cão com ela (faça isso que eu ligo já já para a protecção dos animais), depois os açoreanos e madeirenses que nem dá aqui para traduzir porque para se perceber é preciso tradutor, os que vão de férias para países fantásticos e querem a todo custo levar o telemóvel para postar as fotos no fb que lhe vão custar-lhe tipo 50€ e uma das minhas favoritas: sim, eu espero menina, mas olhe, não demore muito que tenho ali a panela ao lume e o home está quase a chigaré!!
Trabalhar num Call Center dá panos para mangas, mas dá também pano para julgar. Acreditem, isto é só a pontinha da miada.