when i look up #159
Já vos disse, acho, e volto a repetir: deixei de ter folgas ao fim-de-semana. Pediram-me no início do verão se podia alterar "ah e tal, temporário claro!" e eu burra que nem uma porta aceitei; claro, estraguei as minhas férias, não fui a vários eventos porque não tinha fins-de-semana. Pronto, na realidade, foderam-me à brava.
Agora, com o regressar das aulas, comecei a aperceber-me que não, não era só para o verão. É porque precisam de mim, porque aquilo que eu faço pouca gente faz, os skills que tenho carregados para atendimento etc... Ok. Depois volto a insitir, porque não sou do Porto e a minha família não é de cá, se não tenho fins-de-semana não posso ir a casa. Porque sou trabalhadora estudante e nunca vou ter um dia completo para descansar, etc.
A administração diz-me "vamos ver o que podemos fazer" - já estão a ver onde é que isto vai dar?
A dra. chama-me ao aquário (doutora não sei de quê, que mania irritante serem tratados por doutores quando não são médicos e não têm doutoramento em porra nenhuma) e diz-me: após validar com o advogado da empresa, infelizmente, não lhe vou poder dar as folgas ao fim-de-semana; os pais tem prioridade sobre esses pedidos e pedidos de férias. Pronto, ok... Vou ser drástica novamente: mas porque é que é uma exaltação agora ser-se mãe/pai? Sou toda eu a favor da reprodução e tal, mas que culpa tenho eu que eles tenham escolhido reproduzir-se e eu, que nem sinto vontade de ter filhos, sou prejudicada pelas suas escolhas? Porque é que eles têm prioridade? Eu sou filha de alguém, isso conta? E namorada, e não tenho empregada da limpeza, também é válido? Tenho pais, eles também não deviam ser poupados a esta questão? Pela ordem de ideias... tenho duas gatas que odeiam ficar o dia todo sozinhas em casa!
Estou a começar a ficar um bocado saturada de desculpas de "porque agora sou mãe/pai", não, a sério! A sociedade misogenista que críamos vai continuar a perpetuar. Eu não sou obrigada a ter filhos. Ponto. E muito menos obrigada a ter filhos para ter certos "direitos", tal como não sou obrigada a ser carpinteira porque tenho duas mãos; tenho cordas vocais, e também não sou cantora de ópera.
Lá porque tenho um útero e não sinto necessidade de fazer uso dele como quarto para arrendar durante 9 meses não quer dizer que seja menos pessoa ou tenho menos ou mais necessidades de ter folgas ao fim-de-semana para meu usufruto. Compreendo que há coisas que os pais não controlam e acho bem que tenham benefícios de horários de saída ou de entrada porque convenhamos que o nosso país burocrático fecha as escolas às 4.30 da tarde... Porque sim. Também perecebo os lugares no autocarro ou as filas preferenciais no supermercado. Eu compreendo, mas eu sou trabalhadora como eles, e no trabalho só peço que no tratem de igual forma. Faço as mesmas horas, se não chego a tempo vai para a folha de horas e ninguém deve ter tratamento preferencial porque tem um apêndice genético. Só isso.
Mas o que me irrita ainda mais, é pessoas que usam isto a seu favor mas depois enfiam-se num shopping a porra do fim-de-semana todo com as crianças instituindo e perpetuando a frivolidade desta sociedade.
E pronto. É isto, um desabafo. Nada de mais.